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Indianara Siqueira

Indianara Siqueira é ativista transexual, vegana e militante pelos direitos das mulheres, prostitutas e dos LGBTs há mais de 20 anos. Nasceu em Paranaguá, no Paraná, em 1971. Aos 18 anos, foi para Santos/SP, onde viveu na rua e se prostituiu. Na época, a cidade era conhecida como a capital mundial da Aids. Ao ser perguntada sobre sua transição de gênero, diz que começou a tomar hormônios aos 12 anos, sem acompanhamento médico: “Não tinha orientação adequada. Hoje já existem núcleos de acompanhamento de crianças e adolescentes, como no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Os pais que procuram esses núcleos são aconselhados, há acompanhamento psicológico... E, para tomar hormônios ou fazer qualquer cirurgia, é necessário completar 18 anos”.  

 

Sua vida de ativista e militante começa na luta pela prevenção do HIV-AIDS, nos anos 90 (década auge da epidemia). Na época, havia uma ideia equivocada de que as prostitutas, travestis e homossexuais (sobretudo os homens) eram responsáveis por disseminar o vírus entre a população. Ademais, o tratamento disponível à época não produzia bons resultados, como hoje, e não era amplamente ofertado, por isso, muitas pessoas, ao contraírem o vírus, desenvolviam a doença e morriam. Após perder a irmã e um cunhado para a doença, Indianara percebe a real dimensão da letalidade do vírus, que não está reservada a um “grupo de risco”, mas depende de adotarmos “comportamentos de risco”. Assim, inicia sua participação na luta pela prevenção e tratamento das pessoas com HIV-AIDS, divulgando informações, bem como passa a se engajar em movimentos sociais em favor dos Direitos Humanos em geral, sobretudo educação.

 

Indianara morou na França e lá permaneceu presa durante dois anos e meio por alugar apartamentos para travestis e transexuais brasileiros que se prostituíam. A sua ideia era promover um ambiente seguro, onde essas pessoas pudessem realizar sua atividade sem os abusos exercidos por exploradores. Tal atitude desagradou alguns grupos que extorquiam financeiramente as pessoas que se prostituíam, de modo que Indianara foi perseguida e presa. Por estar em uma prisão masculina, não ter roupas femininas e ainda ser tratada como “senhor”, lutou pelos seus direitos como mulher e conseguiu que fosse criada uma lista de farmácia transgender, pois a prisão masculina não oferecia medicações necessárias para transexuais e travestis.

 

Em 2011, a frase proferida por um policial canadense ilustrou a visão machista sobre o corpo feminino: “Se as mulheres não quiserem ser estupradas, elas não deviam se vestir como vadias”, o que originou a “Marcha das Vadias” em diversas cidades do mundo. No mesmo ano, no Brasil, as pessoas se reúnem para organizar esta Marcha no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esta iniciativa se torna um coletivo, e Indianara se torna uma de suas organizadoras. Ao ser perguntada se foi discriminada por isso, responde: “É o estigma trazido pelo nome ‘vadia’, que escolhemos de propósito. A luta da marcha vai além de pedir direito de trabalhar fora, por exemplo: exige que as mulheres possam ter o direito de fazer o que quiserem, desde que não firam outros”. Atualmente, Indianara é presidente do Grupo TransRevolução (2012), idealizado por Gisele Meirelles, que a convidou para participar deste coletivo.

 

Em 2015, Indianara funda o PreparaNem, um coletivo trans-ativista preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), sendo fundado, composto e voltado principalmente para pessoas travestis e transexuais, no centro do Rio de Janeiro. Neste ano, alunos transexuais ingressaram nas principais universidades da cidade, confrontando uma estrutura que lhes impedia o acesso ao ensino superior. Em 2016, o PreparaNem se estende para Niterói e para a Maré, um dos maiores complexos urbanos da capital carioca: “Eu tinha a ideia de fazer cursos, algum tipo de preparatório, de formação, de alfabetização, já que a maioria das travestis e transexuais não eram alfabetizadas”, diz Indianara. “E aí, eu fui passando tudo que eu pensava sobre este preparatório: um coletivo, com professores voluntários, que se preocupassem não só em ensinar um conteúdo específico, mas também em compreender (a) realidade daquelas pessoas, se elas estavam comendo, se elas estavam doentes, onde elas estavam morando... tudo isso passou a ser pensado”. 

 

A experiência do PreparaNem tornou evidente a necessidade de haver um espaço, similar a um abrigo, para pessoas LGBTIs em situação de vulnerabilidade.  Assim, surge no Rio de Janeiro a CasaNem. “As travestis e transexuais que estavam morando na rua hoje têm pra onde ir, muitas que vinham pro PreparaNem só para a alimentação e para estarem juntas, acabaram encontrando aqui também um lugar onde morar. Então, nós temos aqui esse abrigo LGBT, com 65 pessoas que já passaram por aqui, que, na época dos grandes eventos, precisavam ser abrigadas. Tiveram dias de pico que eram 160 pessoas, também com alimentação dada a moradores de rua… Tivemos que parar porque não deu pra continuar esse trabalho, mas pretendemos voltar. Temos atualmente 23 moradoras, além das pessoas que são assistidas pela casa, vem, tomam banho, se alimentam, se adiantam em questões de documentação, mas não vivem na casa. Temos as festas para auto sustentabilidade, os debates que são feitos aqui, e os movimentos sociais que afluem para esse espaço”, explica Indianara sobre a CasaNem.

 

Sobre a sociedade atual, diz: “Nós vivemos uma sociedade que é contra a diversidade e que é violenta com as mulheres e pessoas de gêneros e sexos divergentes, como as pessoas trans, gays, lésbicas, bissexuais e intersexo”. Quando perguntada sobre o cenário atual para trans mais jovens ser considerado mais fácil, responde: “Hoje há mais acesso a informações. As minhas referências eram Roberta Close, Rogéria. Só que se tratava da espetacularização das trans. Não havia discussão sobre trans participando do sistema educacional, sendo inserida no mercado formal de trabalho. A grande maioria das trans que chegam até mim saíram cedo de casa, abandonaram os estudos, porque não conseguiam ir à escola, não contaram com a aceitação dos pais. Ainda hoje, são muito poucos os pais que aceitam. A sociedade não nos prepara para ter filho trans”. Indianara disse que é importante reconhecer os privilégios e não carregar a culpa de quem somos: “Eu acho que, além do reconhecimento dos privilégios, é importante que a gente largue essa culpa [...]. Acho que é isso, é reconhecer privilégios, recuar e trazer o outro pra frente”.

 

A trajetória e as experiências de Indianara Siqueira viraram um filme de média-metragem para TV chamado “Nem” e um longa documental “Indianara”, único filme brasileiro incluído na seleção oficial da mostra ACID (sigla em inglês que significa Associação de Distribuição de Cinema Independente), do Festival de Cannes, e concorrente à Queer Palm, premiação dedicada a filmes com temática LGBT participantes do festival.​​​​​​​

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Glossário

  • Vegano (ou vegan) : É uma pessoa contra o sacrifício dos animais que busca ajustar seu estilo de vida a este pensamento. Por isso, ela escolhe não utilizar ou consumir nenhum produto de origem animal. Isto quer dizer não usar peças de roupa ou acessórios de couro, lã, seda etc.; não comer carne e outros derivados de animais (leite, manteiga, mel); não frequentar locais de entretenimento como zoológicos e circos que utilizem animais etc. A principal diferença entre veganos e vegetarianos é que os veganos não consomem nada que tenha origem animal, seja em sua alimentação ou outros produtos, como artigos para higiene, limpeza, vestuário ou remédios. Já o vegetariano não come carne, peixe e aves, mas consome outros produtos de origem animal.

  • HIV/AIDS: O agente causador da Aids é denominado Vírus da Imunodeficiência Adquirida (Human Immunodeficiency Virus em inglês ou HIV). Ele é responsável por afetar as células de defesa do nosso corpo, tornando-o mais fraco e vulnerável à ação de outros microorganismos causadores de outras doenças (micoses, tuberculose etc.). A sigla AIDS significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Nem toda pessoa que contrai o vírus desenvolve a doença, embora possa transmiti-lo para outras pessoas. O risco de contrair o vírus HIV não está restrito às pessoas que compõem um suposto “grupo de risco”. A contaminação depende de “comportamentos de risco” que podem ser adotados por qualquer pessoa, seja homossexual, solteira, casada, travesti, tenha filhos etc. Alguns destes comportamentos são: ter relações sexuais sem usar preservativo, compartilhar seringas e objetos pérfuro-cortantes com quem possui o vírus (ex. lâmina de barbear, alicate de unha etc.), entre outros.

  • Coletivo: grupo de pessoas que compartilha um problema ou uma luta de interesse comum. Esse grupo trabalha para alcançar um objetivo comum, como conquista de direitos para sujeitos socialmente excluídos.

  • ​LGBT : A sigla LGBT existe desde a década de 1990 e busca representar as Lésbicas (mulheres que sentem atração por mulheres), Gays (homens que sentem atração por homens), Bissexuais (pessoa que sente atração por alguém do mesmo sexo e do sexo oposto) e Travestis. Posteriormente, a sigla incluiu os Transexuais, Transgêneros, Intersexuais e outras identidades de gênero e sexualidade não contempladas pelas categorias anteriores, o que foi representado pela inclusão do sinal “+”. Assim, a sigla original tornou-se LGBTI+.

  • Entenda a diferença:

  1. Sexo biológico: corresponde ao genital com o qual você nasceu (pênis, vagina) combinado com os seus cromossomos (formados por genes) que vão definir outras características sexuais (ex. tamanho dos seios, formato dos quadris, existência de barba etc.). Através do sexo biológico, identificamos os seres como “macho”, “fêmea” ou “intersexual”.

  2. Orientação sexual: Refere-se a quem você sente atração sexual, emocional e/ou afetiva. O heterossexual é alguém que sente atração por uma pessoa do sexo oposto (ex. homens que gostam de mulheres); o homossexual é uma pessoa que sente atração por alguém do mesmo sexo (ex. mulheres que gostam de mulheres); e o bissexual é alguém que se sente atraído sexualmente por pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto (ex. mulheres que gostam de homens e mulheres). A orientação sexual não é uma escolha. Por isso, não devemos nos referir a ela como “opção sexual”.

  3. Identidade de gênero: é a maneira com a qual você se enxerga e se identifica (ex. como homem, como mulher etc.). A identidade de gênero com a qual a pessoa se reconhece pode corresponder ao gênero associado ao genital com o qual nasceu (é o caso do homem ou mulher cisgênero ou cis) ou corresponder ao gênero oposto àquele definido pelo seu sexo de nascimento (é o caso do homem ou mulher transgênero ou trans).

  • ​Transgênero: Cada pessoa nasce com um “sexo biológico” (genital) associado a um gênero. Em nossa sociedade, o gênero masculino é associado ao pênis e o gênero feminino, à vagina. Algumas pessoas se identificam com a identidade de gênero associada ao seu genital. Por exemplo, uma pessoa que nasce com vagina; se sente bem usando roupas e nome femininos; e se reconhece como uma mulher. Transgênero é o nome utilizado para se referir a uma pessoa que se identifica com o gênero (masculino ou feminino) diferente daquele definido pelo seu sexo de nascimento (pênis ou vagina). Ela não faz isso porque está doente ou porque tem um problema psicológico, mas porque se sente bem assim. O conceito de transgênero engloba outras categorias, como os transexuais e as travestis.

  • ​Transexual: é a pessoa que “possui uma identidade de gênero diferente do sexo biológico” (o genital com o qual nasceu, seja pênis ou vagina), mas se reconhece como alguém do sexo oposto. No caso do transexual, a pessoa pode realizar modificações em seu corpo para ficar com a aparência mais próxima do gênero (masculino ou feminino) com o qual se identifica, o que é denominado processo transexualizador. Isto inclui tomar hormônios com acompanhamento médico; fazer operação plástica e, eventualmente, modificar seu genital (a cirurgia de redesignação sexual). Porém, nestes casos, a pessoa deve ser maior de idade (ter 18 anos ou mais); ser acompanhada por um psicólogo e por um médico. Thammy, o filho da ex-cantora Gretchen, é um exemplo de “homem trans”: é uma pessoa que nasceu com vagina, mas se identifica com a identidade de gênero masculina; se apresenta socialmente e/ou se reconhece como homem; fez terapia hormonal com testosterona; e fez operação de retirada dos seios (mastectomia). E você? Lembra de alguma figura pública que é uma “mulher trans”?​

  • Travesti: é a pessoa que nasce com pênis; sente atração por outros homens; mas se identifica com o gênero feminino. Por isso, elas são tratadas no feminino (a travesti) ao invés do masculino (o travesti). A travesti adota um comportamento feminino; usa adereços, roupas, maquiagem etc. de mulher; e pode realizar transformações em seu corpo, como aplicar silicone e realizar cirurgias plásticas (ex. afinar a cintura, diminuir o queixo) para ficarem mais parecidas com as mulheres. Porém, em geral, elas preservam seu genital (o pênis) como ele sempre foi, ou seja, não realizam uma cirurgia para “mudar de sexo”.

Fonte:

 

"Cardápio vegano: Veja alimentos poderosos para suprir a ...." Disponível em: https://www.conquistesuavida.com.br/noticia/cardapio-vegano-veja-alimentos-poderosos-para-suprir-a-carne-nas-refeicoes_a3097/1. Acesso em 20 maio 2020.

 

"Entenda a diferença entre veganos e vegetarianos - Diferença." https://www.diferenca.com/vegano-e-vegetariano/. Acesso em 21 maio 2020."

 

O vírus da Aids, 20 anos depois - Fiocruz." http://www.ioc.fiocruz.br/aids20anos/linhadotempo.html. Acessado em 21 mai.. 2020.

"Entidades LGBTIs lançam manual de redação | ABI." 9 mai.. 2018, http://www.abi.org.br/entidades-lgbtis-lancam-manual-de-redacao/. Acessado em 20 mai.. 2020.

Cartilha - Defensoria Pública da Bahia. Entendendo a diversidade sexual". https://www.defensoria.ba.def.br/comunicacao/cartilhas/. Acessado em 20 mai.. 2020.​​​​

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Vídeos relacionados com Indianara

Fonte:

 

Disponível em: <https://www.futura.org.br/indianara-siqueira-documentario/>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <http://www.revistalatinoamericana-ciph.org/wp-content/uploads/2018/02/RLCIF-3-Entrevista-com-Indianara-Siqueira.pdf>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <https://midianinja.org/eduardosa/o-governo-tem-a-obrigacao-de-respeitar-a-individualidade-de-cada-um-defende-indianara-siqueira-lideranca-lgbt/>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/corro-risco-de-morte-por-lutar-por-direitos-humanos-isso-louco-diz-ativista-trans-indianara-siqueira-23664618>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/03/29/estas-brasileiras-mudaram-a-historia-mas-voce-conhece-a-historia-delas.htm>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Fontes das imagens:

 

Disponível em: <http://desacato.info/eleicoes-sem-travestis-e-transexuais-tambem-e-golpe-diz-indianare-siqueira-ao-ter-candidatura-negada-pelo-psol-rj/>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <http://www.cinevitor.com.br/indianara-siqueira-protagonista-de-documentario-exibido-no-8o-olhar-de-cinema-fala-sobre-politica-preconceito-e-causa-lgbt/>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <https://projetocolabora.com.br/ods5/casas-dao-abrigo-para-lgbts/attachment/indianara-siqueira-bibiana-maia-1/>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <https://www.portalr3.com.br/2016/01/entrada-de-transexuais-em-universidades-trara-mudancas-sociais/>. Acesso em 18 de maio de 2020.

 

Disponível em: <https://davidmirandario.com.br/2018/05/sem-pedir-licenca-lgbts-tomam-camara-do-rio-em-noite-historica/>. Acesso em 18 de maio de 2020.​​​​​​​​​

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